A Cidade Murada


Título: A Cidade Murada
Autor: Ryan Graudin
Editora: Seguinte
Páginas: 400
ISBN: 9788565765633

"Existem três regras para sobreviver na Cidade Murada. Corra rápido. Não confie em ninguém. Ande sempre com uma faca". (p. 11)

Jin Ling segue essas três regras à risca há dois anos, desde que seu pai vendeu sua irmã e Mei Yee foi levada pelos Ceifadores para a Cidade Murada, longe dos campos de arroz e do calor ardente, do pai agressivo e da mãe submissa. Apesar de mais nova, Jin Ling sempre fora a mais forte das irmãs, protegendo a mais velha dos ataques violentos do pai. Aprendera a se mover como um fantasma, usar o máximo de seus sentidos e sem Mei Yee, seu porto seguro, veio a usar tudo o que aprendera na Cidade Murada em busca de sua irmã. Uma jovem naquele lugar, sem teto e sem família, nunca conseguiria sobreviver, estaria à mercê dos bordéis da cidade e, desde que decidira buscar pela irmã, Jin Ling usa roupas de menino, passando-se por um pivete faminto e imundo. 

Perto das ruas que formam um labirinto onde Jin Ling se encontra está Dai, um garoto soturno que tem apenas dezoito dias para encontrar uma saída da Cidade Murada, preso naquele lugar por muito tempo. Ele tem um plano, arriscado e extremamente perigoso, e só precisa de alguém que consiga correr muito, mas muito rápido. Alguém como Jin Ling. 

O que mantém Daí preso em Hak Nam é um mistério, mas envolve um passado que o atormenta até mesmo em seus sonhos. Jin Ling não confia em ninguém, mas a oferta de Dai é tentadora: realizar corres de droga para a Irmandade, a gangue que tem como líder o temido Longwai, o homem mais importante da Cidade Murada e dono do maior bordel da cidade, o único em que Jin Ling não conseguiu entrar. 

Enquanto Jin Ling e Dai se envolvem com traficantes e assassinos, cada um com um objetivo específico, Mei Yee vive como uma prisioneira dentro de um quarto com coisas que vê todos os dias, dia após dia, ao lado de outras garotas que vivem sem esperança e com o medo enraizado nas entranhas, sem a menor possibilidade de fugir, propriedades agora de um homem inescrupuloso que as torna ocas, cascas vazias sem vida ou querer. 

E é com três personagens bem distintos que Ryan Graudin nos apresenta A Cidade Murada, intercalando a narrativa entre a frágil Mei Yee, o misterioso Dai e a destemida Jin Ling, fazendo com que o leitor possa acompanhar a história através da perspectiva de cada um dos personagens, conhecendo os seus medos e suas esperanças, seus pontos fortes e seus pontos fracos, aquilo que os leva a continuar suas lutas. 

Não acredito que A Cidade Murada tenha me feito sentir em um livro distópico. Inspirado em um lugar que realmente existiu (a cidade murada de Kowloon, em Hong Kong, antes uma fortaleza militar chinesa, depois a maior favela vertical do mundo, demolida no início dos anos 1990 (leia mais sobre a cidade aqui)), a autora conseguiu trazer algo bastante real à narrativa, entre os becos sujos e escuros, onde o sol não chega, as ruas apertadas e a dificuldade de sobreviver um dia após o outro, além dos personagens que conseguiram transmitir veracidade em suas emoções e trajetórias. 

A Cidade Murada é um livro que revela ao leitor o aspecto cruel e triste que existe no mundo, mas também carrega consigo a sensibilidade e a beleza dos atos de lealdade, amor e amizade. Tudo isso é muito bem colocado num ambiente cultural diferente do nosso, onde Ryan Graudin conseguiu transmitir de uma forma que me fez adorar cada página do livro.

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Lançamento: 29 de abril de 2015.

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